VIDA NOVA

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

- III Domingo do Advento: Ano B


O texto: Jo 1,6-8.19-28

 


Breve comentário

Entre os discípulos de João Baptista nem todos aceitaram Jesus como o Messias, mantendo-se assim, até ao séc. IV, duas correntes messiânicas: os que receberam o baptismo de João e os que receberam o baptismo em nome de Jesus.

O texto deste 3º Domingo, tirado de Jo 1,6-8 (do Prólogo do Evangelho) e de Jo 1,19-28, tal como os evangelhos sinópticos o fazem cada um ao seu estilo, procura esclarecer a diferença entre o Precursor e o Messias, apresentando João como um protagonista essencial da entrada na história do Verbo de Deus, que é Vida dos homens e Luz do mundo.

A primeira parte (Jo 1,6-8) já deixa bem claro que João, mais do que um Precursor de Cristo, é um «homem enviado por Deus... para dar testemunho da Luz». Não era a Luz, mas devia dar testemunho da Luz, aquela luz verdadeira que ilumina todo o homem. O próprio Jesus dirá mais adiante: «Quem me segue não caminha nas trevas».

A segunda parte (Jo 19-28) é o início dos diversos testemunhos em favor de Cristo, começando com o testemunho de João em relação aos judeus (e fariseus) que em todo o IV Evangelho são apresentados como os inimigos de Jesus. São a concretização do que já foi dito no Prólogo: «Veio para o que era seu e os seus não o receberam» (1,11).

Num diálogo insistente, João dá o seu testemunho e declara que não é o Cristo, o Messias, a LUZ.

Também não é Elias nem o Profeta. Quer um quer outro eram considerados pelo judaísmo como figuras messiânicas. Esperavam o retorno de Elias no momento em que a salvação irrompesse na história. E o Profeta tinha anunciado aquele tempo como precursor do Messias (Ml 3,1-3). O rito do baptismo, já praticado pelos essénios em Qumran, tinha uma dimensão messiânica porque, por meio dele, se obtinha a purificação necessária para participar da salvação. Por isso, tem sentido a pergunta da embaixada: «Então porque baptizas...?».

João apresenta-se como a personificação do Antigo Testamento, como a voz que anuncia a grande libertação (Is 40,3) que virá com o Messias. O baptismo de água que ele realiza sugere e anuncia o baptismo do Espírito de que falará expressamente mais adiante (Jo 1,33).

Enquanto João faz ouvir a sua voz e baptiza com água, faz saber aos seus ouvintes que «no meio de vós está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, a que eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».

O anúncio de Cristo por João Batista é dado com toda a humildade. Nem se considera digno do serviço mais humilde: desatar a correia das suas sandálias. E no entanto, a tanta grandeza corresponde uma situação paradoxal: os sacerdotes e levitas não conhecem esta personagem, que está no meio deles. Toda a atenção se deve, pois, voltar para o desconhecido que já está presente mas que os judeus não conhecem, ou melhor, não conseguirão reconhecer ao longo de todo o evangelho porque são «cegos».

Como acontecerá muitas vezes ao longo de todo o evangelho, também aqui é indicado o lugar onde tudo se passa, para sublinhar o significado e a importância das informações e do testemunho de João. Estamos no âmbito do concreto e da história. De facto, o evangelista João se, por um lado, nos apresenta uma obra cheia de simbolismo («sinais») é, por outro lado, o evangelista mais concreto e preciso nas informações temporais e geográficas que fornece aos leitores.



P. Franclim Pacheco
Diocese de Aveiro



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